Os desafios dos moradores do Residencial Magalhães
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Marabá, cidade no sudeste do Pará, tem 300.000 habitantes e um orçamento maior do que algumas capitais brasileiras de maior porte. No entanto, segundo o IBGE, 37% de sua população vivem em situação de pobreza extrema. O Residencial Magalhães é uma ocupação de moradia onde vivem cerca de 1500 famílias. Lá, em uma espécie de bairro improvisado, os moradores convivem com a precariedade estrutural de seus lares e as incertezas decorrentes do processo de ocupação desordenada.
Assista a videorreportagem "Residencial Magalhães":
Cotidianos do Residencial Magalhães
Comunidade de ocupação com cinco anos em Marabá, no sudeste do Pará, usa bicicletas, solta as crianças pra brincar nas ruas e se reúne nas calçadas para trocar experiências em meio às adversidades
Por Thays Araujo
Ilustrações: Osmir Lima

Dona Maria e seu José Correia são alguns dos moradores do Residencial Magalhães, uma ocupação em Marabá, no sudeste do Pará. Atualmente, cerca de 1500 famílias vivem no local.

As ruas do bairro, com pouco mais de cinco anos de existência e uma demanda que ainda requer inúmeras melhorias de infraestrutura, são tomadas por crianças brincando.

O Núcleo de Educação Infantil (NEI) Professor José de S. Andrade Filho é a única alternativa de educação infantil no bairro, mas só atende crianças de 3 a 5 anos. As demais estudam longe.

Rubenilda Bandeira Miranda, presidente da Associação de Moradores do Residencial Magalhães, e outros vizinhos se unem para lutar por melhores condições. Uma das conquistas foi o transporte escolar para as crianças e adolescentes estudarem em outras regiões próximas.

A bicicleta é um dos veículos mais vistos e utilizados pela população nas ruas sem asfalto planejado do residencial. É comum ver pessoas de todas as idades transitando com suas bikes.

Os fins de tarde e as noites são propícios para os moradores tomarem as calçadas e jogarem conversa fora.

Uma das principais demandas da população do residencial é ter água nas torneiras. Alguns improvisaram poços particulares. A população convive próximo a um esgoto a céu aberto, por vezes, rodeado por lama e mato alto. As reivindicações por manutenção são uma constante.

As residências ainda não são estruturadas, muitas casas foram ocupadas sem acabamento pelos moradores, em uma época que o matagal tomava conta das ruas. A iluminação pública é outra questão que também requer atenção.

A esperança em dias melhores move a comunidade que cresceu desordenada, proveniente da demanda por moradia, mas que enfrenta os desafios do dia a dia com fé e sorriso no rosto.
Esta reportagem foi desenvolvida por meio da iniciativa Bolsa-Reportagem, parte da cooperação técnica entre a Vale e o Canal Futura, com o objetivo de fomentar a produção e amplificar o alcance de informações e conteúdos sobre o enfrentamento à pobreza extrema.
Rubenilda Bandeira Miranda: luta e inspiração para mais de 1.500 famílias no sudeste do Pará
Coleta regular de lixo, transporte escolar e a confiança dos moradores são algumas das conquistas de uma líder comunitária incansável
Por Thays Araujo
Rubenilda Bandeira Miranda, de 38 anos, vive e resiste no Residencial Magalhães, em Marabá, no sudeste do Pará. Mulher parda e batalhadora, ela é mais do que uma liderança comunitária; é uma mãe que enfrentou a dor de perder um filho e ergueu a cabeça em meio a inúmeras adversidades. Hoje, é figura central para milhares de famílias que, como ela, buscam dignidade em um território esquecido pelo poder público.
Há cinco anos, Rubenilda é a presidente da Associação dos Moradores do Residencial. Seu trabalho diário se mistura com as histórias de superação e a força que a move a transformar o bairro onde vive com as duas filhas e que abriga outras 1.500 famílias.
Seis anos atrás, após uma vida de aluguel e enfrentando dificuldades financeiras, soube da ocupação no bairro. Na noite de 27 de abril de 2019, foi para o local determinada a conseguir um lugar para chamar de lar.

“Na época, eu morava em uma casa própria na Folha 6, mas precisei vendê-la e passei a viver de aluguel. Essa fase foi muito difícil. Quando surgiu a possibilidade de ocupar o Residencial Magalhães, fiquei sabendo por um grupo de WhatsApp, organizado por um homem que, posteriormente, se identificou como líder do movimento”, detalha os primeiros passos da chegada em um dos bairros mais recentes de Marabá.
Ali, encontrou o que seria sua nova casa, tomada pelo mato e pela precariedade, mas com a promessa de recomeço. "Cheguei por volta das oito horas da noite e entrei aqui, mas passei uns 15 dias limpando e observando antes de fixar residência", lembra.
A comunidade enfrentava desafios básicos. As ruas, cobertas pelo mato, e as casas, ainda sem infraestrutura, formavam o cenário que Rubenilda descreve com precisão. “O asfalto, escondido sob uma camada de vegetação. Muitas casas estavam abandonadas ou tomadas pelo mato. Trabalhamos arduamente para mudar essa realidade”, relata.
“Não tínhamos água potável e dependíamos de um poço cavado por um dos moradores. Eu mesmo carreguei baldes de água por meses até conseguir cavar um poço semiartesiano na minha casa. Além disso, tivemos que lutar na justiça para permanecer no local, enfrentando três reintegrações de posse, mas conseguimos resistir a todas”, descreve.
Mesmo com a tensão e o receio de sair do local, a falta de estrutura permaneceu e impulsionou Rubenilda a batalhar por melhorias básicas. Uma das primeiras ações dela foi resolver o problema do lixo na entrada do bairro. Ela conseguiu contêineres e organizou a coleta regular, com a entrada de um caminhão de coleta semanal. Começava ali, seu papel como presidente do bairro.
Com o tempo, essas conquistas se somaram a outras importantes vitórias, como a chegada do transporte escolar para as crianças do bairro. Segundo ela, atualmente, mais de 1.200 crianças e adolescentes do Residencial Magalhães têm acesso a cinco ônibus que os levam às escolas.
Apesar dos avanços, a vida no bairro ainda é marcada por desafios. “Pagamos uma das tarifas mais caras da cidade, e a qualidade do serviço é péssima. Além disso, a iluminação pública ainda é insuficiente, especialmente na entrada do bairro, que permanece no escuro. Apesar das promessas, essas questões continuam sem solução”, descreve.

A saúde é outra área que representa uma ferida aberta na comunidade. Rubenilda, que já assistiu a muitos vizinhos pedir ajuda para consultas e tratamentos básicos, sente a falta de um posto de saúde no bairro. Em meio a ruas estreitas, muitas vezes inacessíveis para ambulâncias e viaturas, para ela, o maior desafio no Residencial Magalhães é a guerra silenciosa contra o descaso do poder público.
“A única segurança jurídica que temos vem da justiça, que nos garante direitos básicos, como moradia e saneamento, embora estes ainda estejam longe de serem plenamente atendidos. Vivemos com esgoto a céu aberto e sem saneamento básico, o que representa um grande risco à saúde”, diz.
Para ela, o Magalhães não é apenas um bairro, mas uma extensão de sua luta, uma causa que representa as vidas de milhares de famílias, das crianças que hoje têm escola, dos trabalhadores que finalmente têm um espaço digno para viver e dos moradores que, como ela, encontraram no bairro um lugar para recomeçar.
É com coragem e uma determinação inabalável que Rubenilda segue incansável. Em cada conquista, vê uma faísca de esperança para um futuro mais digno e, em cada dificuldade, encontra mais força para seguir adiante.

Esta reportagem foi desenvolvida por meio da iniciativa Bolsa-Reportagem, parte da cooperação técnica entre a Vale e o Canal Futura, com o objetivo de fomentar a produção e amplificar o alcance de informações e conteúdos sobre o enfrentamento à pobreza extrema.