Notícia: Mês da Consciência Negra: trabalhadores brancos ganham 69,5% mais que negros

Mês da Consciência Negra: trabalhadores brancos ganham 69,5% mais que negros

Racismo estrutural e a desigualdade salarial pela cor da pele

Mesmo ocupando o mesmo cargo, e com níveis de escolaridade semelhantes, a diferença salarial entre negros e não-negros é mais que o dobro, de acordo com IBGE.

Em novembro, mês da Consciência Negra, o Canal Futura e a Fundação Roberto Marinho trazem uma série de conteúdos que tem como objetivo promover um debate amplo e interseccionalizado sobre raça e racismo. Ao analisarmos o papel historicamente ocupado por pessoas negras vemos como nosso sistema e organização social oprime e desumaniza corpos negros.

Desigualdade racial no mercado de trabalho

No Brasil, a população negra ocupa os cargos mais baixos e possuem menores remunerações, mesmo ocupando a mesma posição que um trabalhador branco.

O percentual de pretos e pardos no mercado informal de trabalho chegou a 47,4% em 2019, enquanto o percentual de trabalhadores brancos foi de 34,5%. Isso é o que mostra a pesquisa “Síntese de Indicadores Sociais”, publicada em 2021 pelo IBGE.

No trabalho informal não há acesso aos mecanismos de proteção social, como o direito à aposentadoria e às licenças remuneradas (como para maternidade ou afastamento laboral por motivo de saúde).

Em 2020, a população ocupada branca recebia rendimento-hora superior à população de cor ou raça preta ou parda qualquer que fosse o nível de instrução. A maior diferença é na categoria superior completo, R$ 33,80 contra R$ 23,40, ou seja, 44,2% acima. Em média, a população branca ganha 69,5% a mais do que a negra.

Gráfico com barras azuis e laranja.

Racismo Estrutural

Embora tenha havido redução das pessoas negras em ocupações informais em 2020, a diferenciação entre cor ou raça manteve-se ao longo de toda a série, denotando sua característica estrutural.

gráfico com linhas azuis e laranja,

Os gráficos apontam para desigualdades historicamente constituídas, como a maior proporção de pessoas de cor ou raça preta ou parda em posições na ocupação de empregados e trabalhadores domésticos sem carteira de trabalho assinada, além de trabalhadores por conta própria não contribuintes para a previdência social.

Gráfico com barras azuis e laranja.
Aspas

O pilar da educação é fundamental para combater o racismo no mercado de trabalho.


Aspas

Para falar mais sobre os impactos do racismo estrutural no mercado de trabalho, o Futura conversou com o professor João Carlos Nogueira, Sociólogo, diretor executivo e pesquisador do Observatório de politicas públicas Reafro/UfSC.

Futura: Nos últimos anos, vemos um debate maior de inclusão e representatividade dentro de grandes corporações e empresas multinacionais. Na sua opinião, os ambientes empresariais estão mais receptivos para receber pessoas negras em cargos de liderança?

Professor João Nogueira: A receptividade está muito mais facilitada, nós negros, não temos mais tanto impedimento como era no passado. As relações internacionais para contratação de serviço mudaram, há uma orientação, inclusive, para as empresas cuidarem da diversidade e combatam o racismo.

No entanto, o desafio está justamente em combater o racismo estrutural, que está revestido de uma igualdade nas relações interpessoais. Podemos combater o racismo nas esferas individuais e institucionais, mas para combater o racismo estrutural precisamos de uma ação social mais ampla. As desigualdades permanecem porque é estrutural.

Futura: Quais políticas afirmativas devem ser feitas para garantir não só a inclusão, mas a equidade da população negra e pobre no mercado de trabalho?

Professor João Nogueira: Precisamos ter um movimento sistêmico para que a escola, desde a primeira infância, tenha profissionais negros e uma equipe preparada para lidar com o Racismo Estrutural e suas práticas assim como no ensino técnico e no Superior, abrindo espaço no mercado de trabalho. Com as cotas, tivemos mais jovens negros e negras frequentando o ambiente academico e qualificando o mercado de trabalho. O pilar da educação é fundamental para combater o racismo no mercado de trabalho.

Futura: A pandemia de Covid-19 afetou todos os trabalhos, mas quais foram os impactos sobre a população negra?

Professor João Nogueira: Antes da pandemia, em 2018 e 2019, a população negra ja era a maioria nos pequenose micro negocios, ultrapassando mais de 50% dos quase 24 milhões de pequeno e microempresários.

Os impactos para a população negra foi ainda pior porque muitos estavam nesse momento crescendo como empreendedores e mesmo quem tinha um trabalho precarizado podia fazer o bico. A pandemia impediu isso e criou uma verdadeira mão de obra de pessoas qualificadas. A pandemia destroçou os pequenos negocios e as cadeias produtivas. E muitos negros ainda enfrentaram dificuldades em acessas políticas de crédito devido ao racismo estrutural.

Futura: Quais são as resistências que as pessoas negras ainda encontram nas empresas?

Professor João Nogueira: A mobilidade interna, a questão salarial, a [falta de] oportunidades de ocupar cargos de direção, cargos executivos. Tudo isso é permeado tanto pelo racismo institucional, quanto pelo racismo estrutural que vem no conjunto da sociedade. Outro ponto importante é qualificação. As empresas sempre priorizam trabalhadores brancos.

Uma empresa precisa prezar pela equidade e ter um equilibrio pensando no que significa ter trabalhadores negros e negras no Brasil. Tudo isso têm raízes no racismo estrutural, que se expressa, por vezes, no racismo institucional e individual.

Futura: E quais as resistências que as empresas ainda têm para promoção desse processo da equidade racial?

Professor João Nogueira: A resistência parte do pressuposto de que negros não têm a qualificação necessária. E quando os currículos materizaliam a qualificação exigida, aparece a mobilidade e questão salarial. Essas resistências, mesmo não sendo explícitas, ainda estão muito entranhadas na relação de funcionamento e mobilidade da própria empresa. A forma com que esperamos debelar essas barreiras e travas dos racismos numa empresa é enfrentando o racismo estrutural em sua base primeira. A origem está em como o racismo estrutural impeça oportunidades tão diferentes para trabalhadores e trabalhadoras negras.

As empresas precisam, cada vez mais, buscar meios de superar a sua forma de ver o processo de contratação saindo daquela lógica de que a mão de obra e o conhecimento de homens e mulheres negras são inferiores aos não-negros.

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