Notícia: FLIIR: Primeiro Festival Literário da Igualdade Racial do Brasil acontece em novembro no Rio de Janeiro

FLIIR: Primeiro Festival Literário da Igualdade Racial do Brasil acontece em novembro no Rio de Janeiro

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Inédito no Brasil, o festival reúne grandes nomes da literatura afrodiaspórica. Conceição Evaristo e as irmãs Nardal são as homenageadas

Em diálogos transatlânticos, afirmando a literatura e a arte como tecnologias ancestrais de resistência, o primeiro Festival Literário da Igualdade Racial (FLIIR) do Brasil acontece nos dias 20 a 23 de novembro, na Central Única das Favelas (CUFA), em Madureira, Zona Norte do Rio de Janeiro. Com o tema "Entrelaçando Letras e Lutas: Escrevivências Pan-Africanas e Igualdade Racial", a programação conta com palestras, oficinas, rodas de conversa e a final do campeonato SLAM BR que acontecerá no espaço Zê Êne ao lado da CUFA. A entrada é gratuita e as mesas serão transmitidas através do YouTube

“Este festival nasce da urgência de ouvir o que se tentou calar, trazendo para o centro da cidade as vozes historicamente relegadas às margens. O FLIIR não é apenas um evento literário: é resistência, é celebração da criatividade, das memórias atravessadas pelo Atlântico e do futuro que ousamos imaginar. Aqui, a literatura é tecnologia ancestral de libertação; homenageamos quem inventou mundos enquanto o mundo tentava apagá-los”, afirmou Thais Marinho, idealizadora e curadora do FLIIR junto a Júlio Ludemir, idealizador da Flup, Festa Literária das Periferias, parceira estratégica do festival.

Um evento inovador dedicado à celebração e promoção da diversidade racial e étnica, o FLIIR traz as vozes das diásporas para as ruas do bairro que é um dos maiores centros de valorização da cultura afro-brasileira. Conectando presente, passado e outros futuros possíveis, o festival tem como homenageadas três grandes intelectuais negras: as irmãs Jeanne e Paulette Nardal, e a escritora Conceição Evaristo

"O Ministério da Igualdade Racial compreende o FLIIR como uma ferramenta que, por meio da literatura e da arte, combate o racismo e valoriza o legado de intelectuais negras e negros que nos antecederam. Dialogando, construímos juntos um futuro com justiça racial e dignidade”, ressalta a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.

As irmãs Nardal, nascidas na Martinica, uma ilha do Caribe na região da França, são pioneiras do pensamento negro francófono, responsáveis por elaborar as primeiras linhas do que viria a se chamar Négritude. Paulette foi escritora e jornalista, e uma das impulsionadoras do desenvolvimento da consciência literária negra, e Jeanne, foi escritora, filósofa e professora. Juntas, criaram o “Le Salon de Clamart”, um salão literário para discutir cultura, política e arte negras em uma rede de experiências na diáspora.

No balanço das marés entre Caribe e Brasil, Conceição Evaristo faz confluência com as irmãs Nardal como uma das escritoras mais influentes do país. Mãe do conceito “Escrevivência”, a mineira que não nasceu rodeada de livros, mas de palavras, como ela mesma disse, fecha o trio das homenageadas do festival, que tem como público alvo as populações historicamente invisibilizadas, que costuram a vida “com fios de ferro”

“É uma alegria imensa participar da primeira edição do FLIIR, um festival que entende a literatura como ferramenta de luta pelo avanço da igualdade racial. A importância dessa troca é imensurável, celebrar novas narrativas, as Escrevivências, é celebrar a vida. Dentre tantas expressões da literatura, a poesia muitas vezes é esquecida, e homenagear também a oralidade é chamar atenção para a poesia que nos atravessa no dia a dia e para as desigualdades que ainda invisibilizam tantos povos e territórios”, relatou Conceição Evaristo, autora homenageada deste ano.

Alinhada aos valores de diversidade e inclusão do festival, a programação é múltipla com destaques para todos os públicos. Na quinta-feira (20), o evento tem início com a exibição do filme Biguine de Guy Deslauriers que conta história de dois artistas da Martinica e os desafios para viver do seu sonho. Após, a mesa “Redes e Rastros: Justiça Racial nos territórios invisibilizados”, convida o público a um mergulho nos desafios e nas estratégias de resistência em localidades onde a presença negra é sistematicamente invisibilizada. Esta é a primeira mesa de uma série de diálogos ao longo do festival composto por 25 pesquisadoras negras de todas as regiões do Brasil para tecer um grande painel de pesquisa, memória e articulação política. Todas as participantes são autoras do “Dicionário Biográfico: Histórias Entrelaçadas de Mulheres Afrodiaspóricas”. 

Em seguida, acontece a mesa de abertura com Thais Marinho, idealizadora e curadora do FLIIR; Julio Ludemir, parceiro idealizador da Festa Literária das Periferias (FLUP) e representantes do Ministério da Igualdade Racial (MIR). 

À noite, às 19h, acontece a Mesa Povos Ciganos, um momento dedicado às manifestações dos povos ciganos, grupos historicamente perseguidos e invisibilizados. A atividade será conduzida pelo grupo cultural Cia de Tradições Ciganas Dirachin Callin, formado por ciganos da etnia Calon, que residem em Souza, na Paraíba

Neste dia até o último dia de evento, no espaço Zê Êne ao lado da CUFA, acontece o SLAM BR, o Campeonato Brasileiro de Poesia Falada, a maior disputa nacional de poetry slam. Em 2025, de forma inédita, a grande final nacional acontecerá na programação do FLIIR trazendo poetas de todas as regiões do Brasil, diversidade racial e muita poesia falada. 

Na sexta-feira (21), o festival começa com um debate sobre a luta por uma educação antirracista. Durante toda a tarde os diálogos giram em torno da história da presença negra no Brasil, memória e letramento racial como ferramentas de libertação. O destaque da noite é a competição nacional de SLAM BR. 

No sábado (22), penúltimo dia do festival, a programação é voltada para as intelectuais homenageadas. Conceição Evaristo será entrevistada por jovens escritores da Biblioteca Conceição Evaristo, projeto da FAETEC do Maracanã. Em sequência, a exibição do documentário "Les sceurs Nardal: les oubliées de la Negritude" sobre as irmãs Nardal e a mesa “Feminismo Negro: Experiências Transatlânticas e Desafios Contemporâneos” com Alice Hasters e Léa Mormin-Chauvac levam ao público uma discussão sobre feminismos negros em uma perspectiva transatlântica, abordando experiências, narrativas e práticas de resistência de mulheres negras na Europa, nas Américas e em contextos coloniais e pós-coloniais. Neste dia também acontece a Leitura Et les chiens se taisent  Aimé Césaire, os dilemas e as contradições do herói revolucionário.

“Ao conectar as irmãs Nardal e Conceição Evaristo, entrelaçamos pensamento francófono e brasileiro, passado e presente, e afirmamos que a igualdade racial não é utopia: é prática, pesquisa, cuidado, a ponte entre o que fomos e o que ainda podemos ser. Quem escreve, resiste; quem lê, transforma; quem escuta, herda”, destaca Thais Marinho, idealizadora e curadora do FLIIR.

No domingo (23), último dia do FLIIR, as conversas giram em torno da “Cozinha Ancestral: diálogo cultural”, com a Alimentação Sustentável e Justiça Social, com a jornalista francesa Audrey Pulvar e lideranças de terreiros e quilombos de diversas regiões do Brasil e a final do SLAM BR.

Além disso, durante o festival teremos mesas com participação do Ministério da Igualdade Racial, abordando temas como o Programa Juventude Negra Viva, e a Mostra de Painéis Sinapir com o objetivo de dar visibilidade às práticas desenvolvidas por estados e municípios integrantes do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir), voltadas ao fortalecimento da discussão sobre a questão racial por meio da literatura e de outras formas de expressões literárias. 

O FLIIR é acompanhado por um Comitê Gestor composto por representantes do Ministério da Igualdade Racial (MIR), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), especialistas da comunidade científica, e pela coordenação do Festival. O Comitê realiza reuniões periódicas e é responsável pela aprovação e avaliação das ações do evento, além de participar da curadoria da seleção de profissionais, agentes, publicações e demais atividades, realizando reuniões periódicas de acompanhamento. 

O Festival Literário da Igualdade Racial - FLIIR é financiado pelo Ministério da Igualdade Racial (MIR) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ministério da Ciência e Tecnologia e Ministério da Igualdade Racial por meio da Chamada CNPq/MIR nº 27/2024.”. Realizado pela PUC Goiás e Kilombo Áyàn (Memóra Social e Subjetividades Transatlânticas (PUC Goiás/CNPQ)). Tem a Parceria Estratégica da Associação Na Nave, Parceria Institucional da RELFET (Rede Latino-Americana e Caribenha de Pesquisas sobre Feminismos de Terreiros) e Parceria da Festa Literária das Periferias (Flup).

Serviço

Festival Literário da Igualdade Racial (FLIIR)

  • Dias: 20 a 23 de Novembro de 2025
  • Local: Central Única das Favelas (CUFA)
  • Endereço: Rua Francisco Batista, 1 - Madureira, Rio de Janeiro - RJ, 21351-000
  • Entrada: Gratuita