Notícia: Antirracismo na escola: 5 dicas para criar um currículo escolar antirracista

Antirracismo na escola: 5 dicas para criar um currículo escolar antirracista

Como incluir o antirracismo nas pautas escolares?

Um menino negro está jogando basquete sozinho na quadra de um colégio. Ao fundo, há uma parede branca grafitada com um desenho de uma mulher negra com asas
Antirracismo nos espaços escolares: a decoração a escola também educa e passa mensagens. (Foto: AFP)

Antirracismo é ação. Uma educação antirracista precisa ser embasada em pesquisa, metodologias e planejamento para que as reflexões levem a atitudes antirracistas. Essas conversas devem começar, ainda, na Educação Infantil como forma de proteger, principalmente as crianças negras, do violento racismo brasileiro.

1. Invista em Formação Continuada

A pedagoga Clélia Rosa acredita ser ” fundamental que professores se responsabilizem pelo conhecimento que estão levando para seus alunos sobre a população negra. É preciso entender que são décadas e décadas de negação desse conhecimento. Professores também não tiveram acesso a essas informações, então é preciso estudar, pesquisar outras epistemologias que não nos foram apresentadas na nossa formação”.

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2. Invista no Autoconhecimento

Quando o professor tem o hábito de duvidar da capacidade de crianças negras, usando constantemente frases como: “Quem fez este trabalho? Está muito bonito, não acredito que tenha sido você”, o racismo fica evidente. Os educadores precisam se auto avaliarem para não reproduzirem abordagens racistas dentro das salas de aulas. E a partir dessa desconstrução auxiliar na formação de estudantes brasileiros.

Um menino negro está mexendo em um pequeno vasinho de planta. Parece que ele está pingando algum líquido na terra onde a plantinha está inserida
Reconhecimento e valorização são fundamentais para crianças negras. (Foto:AFP)

Para a psicóloga Nathália Nascimento há tipos de educadores que têm atitudes racistas, mas reconhecem o próprio racismo e estão em desconstrução. Existem os que estão cientes do problema, porém não reconhecem o próprio racismo. E tem, ainda, aqueles que são racistas e minimizam a gravidade da situação.

O corpo escolar é composto por todas estas pessoas por isso faz-se necessário trabalhar a auto conscientização que leve à mudança. Educadores e educadoras também são responsáveis pela formação de novas gerações de pessoas antirracistas.

Atenção! Essa auto reflexão pode ser um processo desagradável. A conversa sobre raça traz tensões que são naturais, pois a formação das raças foi um processo estruturado na violência. Respire fundo e vá. As chances de se tornar um ser humano melhor são enormes.

3. Ressignifique o Ensino da História Brasileira

É fundamental que as crianças aprendam desde a Educação Infantil sobre as características do povo e a formação da população brasileira. Cabe à escola enaltecer as contribuições dos povos originários e povos africanos para a formação do Brasil.

Uma mulher negra está com duas crianças negras em seu colo
As contribuições das culturas africanas devem ser valorizadas pela Escola. (Foto: AFP)

Segundo Clélia Rosa “As crianças precisam ser apresentadas a uma história que reconecte com a nossa cultura, com aquilo que o Brasil tem como característica fundamental, com o que o difere de outros países. A escolha de palavras adequadas também faz toda diferença. Dizer que povos africanos foram “sequestrados” ao invés de “trazidos”. Que estas pessoas eram “escravizadas” e não “escravas” também já ensina de forma adequada”, acrescenta a pedagoga e professora.

Quando se fala de história brasileira a violência está presente e isto precisa ser explicado às crianças de forma que elas compreendam e ressignifiquem a chegada dos povos africanos ao Brasil.

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A psicóloga Natalia Nascimento diz que as consequências da ressignificação podem ser múltiplas. “Mesmo que violenta é preciso contar e explicar. Esconder esta história só faz com que a população negra vivencie a violência sem entender o porquê, a raiz dela, e que população branca continue perpetuando o racismo. Se a gente tiver uma educação diferente, a pessoa preta vai se perceber de outra maneira e não-negros também vão enxergar estas questões de forma distinta, o que aumenta as chances de não se tornarem racistas”.

4. Atenção às palavras usadas em sala de aula

A fala acompanha o indivíduo desde o momento em que ele aprende as primeiras palavras até sua morte.  Por isso é importante analisar o dicionário brasileiro, recheado de termos racistas. O uso de verbos como “denegrir” ou da expressão “cabelo ruim” ajuda a manter um português carregado de significados preconceituosos.  A exclusão de palavras e expressões racistas é primordial para que crianças não as aprendam e não perpetuem este tipo de violência em seus vocabulários.

5. Apresente referências positivas

Crescer acreditando na ideia de que ser negro ou negra é feio, ruim e desagradável é um processo doloroso. Essa é a realidade da maioria das crianças negras criadas no Brasil. Por isto, uma boa resposta é apresentar a essas crianças, e, também, às não-negras, referências positivas desses povos.

Fica os questionamentos para os educadores: As imagens que enfeitam a sala de aula são diversas? Existem pessoas negras, brancas, asiáticas, indígenas nestas representações e ilustrações? E como elas estão representadas? Elas têm profissões diversas? Estão em cargos de poder e reconhecimento?

Um menininho negro está de suéter cinza e sentado em sala de aula escrevendo alguma coisa em uma folha
Apresentar referências negras de forma positiva faz a diferença na educação e na promoção do antirracismo. (Foto: AFP)

Clélia Rosa ressalta a importância da linguagem visual para a educação antirracista.
“Crie um repertorio imagético nessas crianças. Vá na contramão das imagens que a mídia e maioria das escolas apresentam. Entenda que são gerações de pessoas vendo negros e negras sempre em extrema vulnerabilidade e situações de violência. A escola precisa ajudar a mudar isto virando uma chave para mudar o repertório imagético e apresentar para crianças negras e não-negras outras representações”, completa a educadora.

Assista aqui esta conversa completa sobre antirracismo na escola, exibida no programa Conexão

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