Conhecer para não deixar ninguém para trás
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Plataforma JET – dados e análises sobre Juventude, Educação e Trabalho

Futura: Como nasceu a ideia de conceber uma plataforma de dados de educação que servisse ao gestor educacional brasileiro, mas também ao público em geral?
Rosalina Soares: Por conta da natureza do trabalho e da missão da Fundação Roberto Marinho, a equipe de Pesquisa e Avaliação era constantemente demandada a produzir relatórios para apoiar o trabalho interno dos gestores, com relação aos desafios da educação e das juventudes. Em uma semana, precisávamos gerar um diagnóstico sobre determinado estado. Na seguinte, uma nova demanda acerca de outro território do país.
Começamos, então, a sistematizar essas demandas e iniciamos um processo de produção de indicadores para todos os territórios brasileiros que contassem com base amostral. O desejo da área era que todas e todos os funcionários da FRM tivessem autonomia para realizar suas consultas e pudessem acessar os dados de qualquer lugar. Surgia a ideia de uma plataforma, na qual os próprios usuários escolhessem os territórios e os indicadores de seu interesse.
Quando apresentamos o projeto ao nosso Secretário-Geral, Wilson Risolia, a ideia original foi ampliada: por termos ali uma poderosa ferramenta de diagnóstico multidimensional das juventudes, disponibilizando dados sobre educação, trabalho e vulnerabilidades para todos os territórios do país, deveríamos colocá-la a serviço de todas e todos.
A partir das informações da Plataforma JET, o gestor tem mais condições de articular estratégias integradas e alinhadas ao tamanho dos desafios identificados com diferentes setores do território
Rosalina Soares

Futura: Um país como o Brasil tem uma enorme diversidade de realidades e cenários. Em que medida a JET pode contribuir com o pensamento estratégico dos tomadores de decisão da educação do país?
RS: Gestoras e gestores da educação precisam ter em mãos informações confiáveis, para que possam conhecer os desafios a serem enfrentados. E a Plataforma Jet oferece um rico diagnóstico sobre as juventudes. Os gestores podem analisar os dados de seu território, de sua região, do Brasil, e verificar se os direitos das juventudes estão sendo garantidos, se há desigualdades. A partir dali, planejar as ações que deverão ser postas em prática.
Futura: A importância da qualidade do dado a ser trabalhado pelas pesquisas é essencial. O que motivou a busca por diversas bases de dados para sustentar o universo de relatórios e leituras que a plataforma disponibiliza? Quais foram essas bases?
RS: No mundo da pesquisa, é muito importante oferecer uma visão multidimensional para que o diagnóstico tenha maior validade e seja mais útil. Utilizamos diferentes bases de dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e dos Ministérios da Economia e da Saúde.
O Brasil tem um conjunto de dados administrativos e secundários muito bons, que precisam ser mais utilizados, de modo a ampliar o conhecimento sobre os direitos. É isso que nos move
Rosalina Soares
Futura: Que leituras podem ser feitas na Plataforma JET sob o ponto de vista da relação da juventude com o mundo do trabalho?
RS: São muitas as possibilidades! Destaco a seguir nossa análise feita especificamente sobre esse tema, no relatório Juventude e Trabalho.
Os jovens brasileiros enfrentam grandes desafios na entrada no mercado de trabalho e no seu desenvolvimento profissional. Entre os jovens, não apenas as taxas de desemprego e informalidade são maiores, como também o percentual daquelas e daqueles em empregos menos seguros e com pouca perspectiva de avanço na carreira.
A baixa qualidade do trabalho dos jovens, associada a um sistema educacional que é, em grande medida, incapaz de atender às suas necessidades, ajuda a explicar a crescente proporção daqueles que não trabalham e não estudam.
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A evasão escolar, que é um dos mais graves problemas da educação brasileira, gera consequências negativas ainda mais expressivas para a trajetória de vida dos jovens. Além de ter maior dificuldade para conseguir um emprego, especialmente em trabalhos com qualidade e boa remuneração, ficam mais vulneráveis para atividades de risco, como o crime.

As oportunidades de conciliar trabalho e estudo, e de acessar empregos de melhor qualidade não estão igualmente disponíveis para meninos e meninas, brancos e negros e jovens de famílias de renda baixa ou alta.
Há forte desvantagem para jovens negras no acesso a melhores condições de trabalho, indicando que a segregação no mundo do trabalho tende a ocorrer cedo nas juventudes.
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Com tantos desafios, políticas que promovam a qualificação e o início adequado da carreira dos jovens, como os programas inseridos na Lei da Aprendizagem, são fundamentais para oferecer melhores portas de entradas no mundo do trabalho.
Apesar do crescente aumento de jovens aprendizes no país, chegando a 431 mil em 2018, menos da metade (46%) das vagas potenciais para jovens aprendizes haviam sido preenchidas. É indispensável que políticas públicas voltadas para os jovens sejam aprimoradas e busquem qualificar a sua entrada no mundo do trabalho.

Futura: O desemprego e a informalidade são desafios enfrentados historicamente pelos jovens na busca por uma vaga no mercado de trabalho. Esse cenário ficou ainda mais complexo com a pandemia?
RS: Nos períodos de crise, os jovens são os mais afetados pelo desemprego. A taxa subiu consideravelmente, entre 2015 e 2017. Em seguida, iniciamos uma recuperação, mas, entre 2019 e o 2º trimestre de 2020, tivemos uma nova elevação, chegando a 25%.
Vale ressaltar que no contexto da pandemia houve uma queda no número de jovens que estão à procura de trabalho. Para calcular essa taxa, consideramos os jovens que estão na força de trabalho, ou seja, muitos jovens que perderam suas ocupações não estão contabilizados neste cálculo. Na pandemia, há um maior distanciamento dos jovens do mercado de trabalho, o que aumenta ainda mais a preocupação com a trajetória futura.
Futura: Em que medida o racismo está relacionado à falta de acesso dos jovens à educação básica?
RS: Na Plataforma observamos uma série de desigualdades pelo recorte racial, com prejuízo para jovens negras e negros. Essa desigualdade perpassa o acesso, a permanência , o aprendizado e a conclusão. A série de violações do direito dos jovens à educação básica tem consequências para o desemprego, a informalidade e, muito enfaticamente, para a taxa de homicídios, muito maior entre os jovens negros, do sexo masculino.
Sabemos que a conclusão da Educação Básica faz diferença na qualidade de vida e no aumento de anos que este jovem irá viver. Mas a literatura nos mostra que o racismo é estrutural e, portanto, perpassa as múltiplas instituições, não somente a escola
Rosalina Soares
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Futura: De que forma a JET apresenta e contextualiza dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb)?
RS: O Ideb mede, em uma escala de 0 a 10, a qualidade do ensino e estabelece metas para a melhoria. É calculado a partir da combinação do desempenho dos estudantes em exames padronizados – Prova Brasil ou Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) -, que são obtidos ao final das etapas de ensino (5º ano e 9º ano do Ensino Fundamental e 3ª série do Ensino Médio) e da taxa de aprovação, por meio do Censo Escolar.
Na Plataforma JET, os usuários encontram os dados de aprovação, reprovação e abandono de todas as etapas e redes de ensino. Há dados de evolução que ajudam a visualizar a tendência ao longo do tempo, as etapas e anos escolares com maiores desafios, por exemplo. Com as informações sobre o Ideb, temos a perspectiva histórica, além de podermos analisar o aprendizado adequado em Leitura e Matemática.
Consideramos muito importante a visualização de cada indicador de forma isolada para, em seguida, verificarmos também o Ideb. Importa muito analisar o fluxo e também o aprendizado
Rosalina Soares
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