Notícia: “A vivência das crianças deu-me a certeza de que movimento também é aprendizagem”

“A vivência das crianças deu-me a certeza de que movimento também é aprendizagem”

Aprendizagens das crianças: Maravilhamento e experiências

O trabalho da professora Mirtes Ramos dos Santos Melo, da Creche Municipal João Eugênio, em Recife, Pernambuco, é dedicado à Educação Infantil, com crianças bem pequeninas, ainda na Primeira Infância, com idades entre 2 e 3 anos.

A Primeira Infância, que vai até os 6 anos de idade, é o período de nossas vidas em que uma multiplicidade de processos acontece muito rapidamente e ao mesmo tempo: o corpo cresce bastante, aprendemos a nos movimentar e pegar as coisas, andar, falar. E mais: passamos também por diversas vivências e aprendizagens relacionadas aos nossos sentimentos, a sensações, um contexto socioemocional que nos compõe e que repercutirá em toda a nossa trajetória dali em diante.

E foi pensando nesse público exigente e ávido por experimentar o mundo que Mirtes concebeu o projeto pedagógico Aprendizagens das crianças: Maravilhamento e experiências, conquistando o Prêmio Educador Nota 10.

Imagem de uma mulher em pé encostada em uma marquise no alto de um prédio provavelmente, pois é possível ver, ao fundo, várias casas em um plano inferior. Ela está sorridente, tem pele morena e cabelos soltos encaracolados. Está de blusa verde escura e calça jeans
Professora Mirtes Ramos em Camaragibe (PE), onde mora. (Foto: Filipe Jordão)

Futura: Como nasceu o projeto Aprendizagens das crianças: Maravilhamento e experiências?

Mirtes Ramos: O projeto nasceu após eu perceber que as propostas planejadas por mim não estavam sendo tão atrativas para as crianças. Muitas vezes, toda a atenção da turma se voltava para algo diferente do que eu havia pensado em fazer em sala de aula. Foi aí que percebemos que as caixas chamavam atenção. Começamos a pesquisar sobre o trabalho com esses materiais não estruturados e intensificamos nosso olhar na direção das crianças mesmo, iniciando o projeto e respeitando os direitos de aprendizagens e desenvolvimentos que compõem os alicerces da Educação Infantil.

Imagem de várias papéis crepons coloridos e enrolados, formando bolinhas. Estão todos espalhados pelo chão, dentro de um círculo que foi formado por pedaços de papel branco cortados junto com rolos de papel higiênico
A diversidade de materiais possibilita a exploração e o aprendizado das crianças em múltiplas dimensões. (Foto: acervo pessoal)

Caixas, papel higiênico, papelão, flores, panelas…

Futura: A configuração da sala, com elementos que agucem as crianças em múltiplos sentidos, é pensada de que forma? Que materiais você utilizou?

Mirtes: Observando o grupo de crianças, penso em materiais simples, mas desafiadores. Muitas vezes eu jogava as caixas dos brinquedos fora e as crianças buscavam, justamente, as caixas, descartando os brinquedos! Elas traziam-nas de volta pra sala e brincavam com as caixas. E foi na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que encontrei o amparo teórico para a minha prática na Educação Infantil, por meio dos campos de experiências.

Organizamos os espaços para que as crianças criassem as brincadeiras. Conversamos com os pais no início do projeto, explicando como as crianças aprendem na Primeira Infância, e qual seria o nosso primeiro passo. Essas famílias foram presentes durante todo o processo. Diariamente, conversávamos no início do horário, e no grupo de Whatsapp da turma tínhamos trocas de experiências. Sempre fazia uma curadoria de fotos e vídeos das nossas vivências e, junto com um pequeno texto, enviava para as famílias. A partir dali, conversávamos sobre essas experiências também no grupo.

Enquanto as caixas ainda não haviam chegado, providenciei rolos de papel higiênico que, por serem elementos simples e do cotidiano das crianças, instigam as pequenas e os pequenos a investigar. Puxaram, rolaram pelo chão com os papéis. Trabalhamos ainda as forças necessárias pra puxar sem rasgar. Os menores pediam ajuda aos maiores para pegar os rolos mais altos. Coletividade, colaboração, trabalho em equipe – tudo isso era trabalhado simultaneamente.

“Uma criança soprar o bico do bule e se maravilhar com o som que sai dali, mostrando a descoberta para os coleguinhas, é uma experiência linda”

Quando as caixas chegaram, as crianças começaram a usar o próprio corpo como unidade de medida: ‘Será que caibo ali?’. Caixas viraram tambores, patinetes, esteiras, tudo pelas mãos delas e deles, sempre em parceria, coletivamente. Com panelas e bules, vivenciamos as diferenças de sons quando sopravam pelos bicos dos bules. Flores e folhas também foram utilizadas, porque as encantaram demais. Frutas foram muito percebidas pela diversidade dos cheiros, dos gostos, das texturas (com a mão e com a boca) e das cores. As aprendizagens das crianças aconteciam a todo instante.

Água, bacias e lençóis foram usados para criarmos labirintos pelos quais as crianças caminhavam e pegavam em tudo, conhecendo e reconhecendo os materiais. Tomaram muitos banhos durante essas atividades e, por meio dessas vivências, trabalharam força, espaço e colaboração também.
 

Imagem de rolos de papéis higiênicos pendurados em barbantes dentro de uma sala com vários cartazes colados na parede ao fundo.
Os rolos de papel higiênico permitiram que as crianças trabalhassem a curiosidade, o desenvolvimento motor e a coletividade. (Foto: acervo pessoal)

Futura: Em que nível e de que maneira a interação das professoras com mães e pais da turminha foi alterada por conta do fechamento das escolas?

Mirtes: Este ano, com a creche fechada, por causa da pandemia, a interação com as famílias está acontecendo de forma virtual, pela internet. Antes da pandemia, conversávamos diariamente no início do horário, além das conversas e trocas pelo grupo de Whatsapp da turma.

“É um privilégio ser professora na Educação Infantil: entender como elas aprendem e poder contribuir para que essas aprendizagens aconteçam e sigam com elas”

Futura: Que sugestões você daria para as(os) colegas que se veem diante do desafio de trabalhar a Educação Infantil de forma remota, por conta da pandemia do novo coronavírus?

Mirtes: É uma pergunta difícil. Estamos enviando duas vezes por semana contações de histórias e algumas outras propostas. Neste momento, estamos conversando sobre nossas experiências com as plantas. Temos crianças cultivando jardins, outras cultivando hortas. Mães e pais já compartilharam alguns vídeos conosco, como o que mostra uma das crianças “apresentando” uma goiabeira e outra brincando com folhas secas.

Imagem de várias panelas e suas tampas, frigideiras, rolos de linha vazios e rolos de papelão espalhados por um chão de areia
As experiências sonoras foram muito divertidas quando as crianças sopraram os bicos dos bules. (Foto: acervo pessoal)

Sobre o Prêmio Educador Nota 10

O Prêmio Educador Nota 10 foi criado em 1998 pela Fundação Victor Civita que, desde 2014, realiza a premiação em parceria com Abril, Globo e Fundação Roberto Marinho.

Reconhece e valoriza professores da Educação Infantil ao Ensino Médio e também coordenadores pedagógicos e gestores escolares de escolas públicas e privadas de todo o país.

O Prêmio tem o patrocínio da Fundação Lemann, SOMOS Educação e BDO, e o apoio da Nova Escola, Instituto Rodrigo Mendes e Unicef. Desde 2018, o Prêmio Educador Nota 10 é associado ao Global Teacher Prize, prêmio global de Educação.

Ao longo das últimas 22 edições, foram recebidos mais de 75 mil projetos, e foram premiados 241 educadores, entre professores e gestores escolares, que receberam aproximadamente R$ 2,6 milhões.

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