Notícia: Retorno das aulas presenciais na Unidade Escolar da Fundação Roberto Marinho

A retomada aconteceu nos meses de março e abril deste ano, após as aulas presenciais ficarem suspensas por dois anos, por causa da pandemia da Covid-19.

Em março de 2020, as aulas foram suspensas em todo o país por conta da pandemia da Covid-19. Durante o período de isolamento, a solução para que os estudantes pudessem seguir seus estudos foi o ensino remoto. Para não deixar ninguém para trás, a Fundação Roberto Marinho criou o projeto “Classes Abertas”, que disponibilizou salas de aula online com a orientação dos professores da Unidade Escolar da FRM. Entre abril e dezembro de 2020, mais de 4.300 alunos foram atendidos por mês em aulas online gratuitas.

Segundo Daiana Jardim, professora das turmas de São Gonçalo, o projeto Classes Abertas foi uma experiência incrível que contemplou estudantes do Brasil inteiro. “Tiveram experiências tão significativas, como a de uma estudante que tinha muita dificuldade em Matemática e que relatou que nas classes abertas ela abriu seu ponto de vista para a Matemática e passou nos concursos que ela queria”, contou Daiana. A professora também explicou que as aulas eram ministradas sempre por uma dupla de educadores: “os estudantes entravam ao vivo, e a gente fazia uma casadinha, ora eu entrava com o João, ora outro professor entrava comigo, foi muito legal, a gente conseguiu associar conteúdos e gerar resultados bem bacanas”, concluiu ela.

duas imagens: a da esquerda mostra uma estudante fazendo uma tarefa usando o livro e o celular e a outra mostra duas estudantes escrevendo no caderno sobre uma mesa
Turma do Ensino Médio, da professora Andréia Ignácio (Foto: acervo pessoal)

Sabemos que esse período não foi fácil e que a pandemia acentuou as diferenças, especialmente para os estudantes com dificuldades de aprendizagem. Os educadores precisaram se reinventar, se adaptar, se transformar. E o retorno às aulas presenciais não foi diferente, os professores tiveram que se preparar para receber os alunos diante de um cenário tão delicado. O professor Nandson Ribeiro, que retornou com suas turmas na unidade do Centro, no início deste mês, reforça que: “a nossa escola tem que acolher esses alunos, não pode deixar que eles se percam. Muitos dos meus alunos estavam há muito tempo fora da sala de aula, mas tinham passado por todo esse processo de aulas remotas com os filhos. Então eles foram como um uma espécie de alunos indiretos, sabe? Acompanharam grande parte desse processo, das questões inerentes a essas aulas remotas. Então, a gente percebe um misto de ansiedade e euforia, uma animação que é algo bem interessante. Nosso desafio é ficar de olho, orientar para que essa euforia não se perca com o tempo, porque a gente sabe o quanto é difícil. Muitos têm uma jornada tripla: são funcionários durante o dia, depois são alunos nas nossas salas de aula e, quando chegam em casa, ainda têm que cuidar das demandas da família. É algo muito cansativo, mas uma coisa que eu sempre falo com eles é ‘foquem no desejo final de vocês que é a aquisição do certificado de ensino fundamental, porque isso vai abrir portas’. E eu tenho feito esse trabalho desde o primeiro dia de aula.”, diz o professor.

Nandson também destaca a importância da troca com os colegas durante as reuniões semanais que acontece com os educadores da Unidade Escolar da FRM. “A gente fala sobre demandas da escola, bola aula juntos, planeja juntos, enfim, é um dando apoio pro outro, sendo escuta para o colega. Nós somos mais do que professores de uma escola, nós somos uma rede de suporte”, ressalta o educador.

cinco estudantes da Unidade Escolar FRM fazendo uma atividade em grupo
Turma do Ensino Fundamental, da professora Fábia Muniz (Foto: acervo pessoal)

Além das formações semanais com os educadores e da preparação dos mesmos para o retorno às aulas presenciais, a Fundação Roberto Marinho também abriu um novo espaço para receber os estudantes. Além de São Gonçalo, Del Castilho e Maré, a Unidade Escolar agora conta com quatro salas na Gamboa, no Centro do Rio de Janeiro. O espaço atende duas turmas de Ensino Fundamental e duas de Ensino Médio e está com vagas abertas para receber novas turmas de jovens e adultos.

Para Andréa Ignácio, professora das turmas de Del Castilho, foi um momento de grande euforia, tanto para ela quanto para seus estudantes, saber do retorno das aulas presenciais. “Eu ainda estou muito feliz de ter voltado, estava sentindo muita falta desse convívio, desse contato. Eu tenho estudantes que foram meus alunos no fundamental e que agora estão comigo no ensino médio que estavam muito ansiosos em voltar. Eu vi uma alegria muito grande nesses alunos, de rever alguns colegas, de voltar para sala de aula, de estar comigo. Os estudantes novos também estão muito felizes por estar voltando, a maioria deles está muito tempo fora da escola, mesmo antes da pandemia.”

Por outro lado, a professora Andréa também demonstra uma preocupação: “Eu espero que essa alegria e essa euforia que percebi no retorno às aulas continuem, mas ao mesmo tempo também percebo muitos estudantes com problemas emocionais adquiridos na pandemia. Tenho alunos depressivos, alunos que às vezes precisam faltar aula por conta de crises de ansiedade, além de muitos preocupados com o mercado de trabalho, especialmente os mais velhos, de como vão se inserir ou a preocupação de aparecer uma oportunidade e ter que deixar a escola.”, relata a professora.

Dois estudantes da Unidade Escolar da FRM de pé em frente a lousa apresentando um trabalho para a turma
Turma do Ensino Médio, da professora Andréia Ignácio (Foto: acervo pessoal)

Renan Carlos, diretor da Unidade Escolar, aponta que o início das aulas tem sido um período de contrastes. “Se por um lado temos alegria e contentamento dos estudantes pelo retorno, por outro tem-se um grande desafio pelos aspectos sociais, pois nesse ponto de vista a pandemia ainda não passou para eles. Muitos estudantes precisaram assumir os seus lares e estão muito reticentes em retornar às aulas, por não conseguirem conciliar com a sua própria subsistência, além de muitos que estão em situação de rua. O momento que temos de crise econômica tem afetado bastante e diretamente o nosso público, que são estudantes de áreas de alta vulnerabilidade social”. Ele conta que a escola tem entrado em contato com os estudantes e conversado para que eles não desistam, mas “muitas vezes as suas necessidades básicas (como moradia, alimentação, por exemplo) os impede de retornar às salas. O que nos deixa animados é que, aos poucos, eles têm retornado”, diz o diretor.

Entre alegrias e desafios, o retorno às aulas presenciais é de extrema importância para contribuir com a redução das desigualdades e a Fundação Roberto Marinho, segue na sua missão oferecendo educação de qualidade para não deixar ninguém para trás.

E para celebrar esse retorno, a alegria da volta, do reencontro e do desejo de recomeçar, compartilhamos o texto “Revoadas para dentro”, de Fábia Muniz, professora das turmas do Centro.

Revoadas para dentro

Assim como nós professores, estudantes ficaram por um longo tempo na expectativa quanto à escola, precisando ficar ligados quanto aos acontecimentos mundiais relacionados à COVID, cuidadosos quanto à própria saúde e a dos outros em volta.

A vida mudou e a escola também, melhor, o jeito de ser escola mudou.

Por várias razões assentar a poeira foi diferente para cada um, para cada escola, para cada educador, para cada lar, cidade, estado... Quando deixamos de estar todos os dias, fisicamente, na escola, muitos não conseguiram seguir sem dar as mãos. Assim, caminhar com a turma, aprender a ensinar longe e por telas, avaliar, afetar ficaram por conta de energia, telas, celulares o que, para muitos, foi um desafio não possível de dar conta.

Esse ano voltamos aos nossos encontros presenciais, aqueles em que planejamos com a possibilidade do encontro físico, com as carteiras em círculos, com as etapas sendo realizadas, com as mãos possíveis de serem tocadas e com os olhos nos olhos e não nas telas... uhuhl!

De nossa parte, professores, uma espera de borboletas na barriga: lugar novo, turma nova, jeito novo para trocas e para o ensinar, já que herdamos as múltiplas possibilidades de também ser escola, encontradas durante a pandemia. Para os estudantes, acho que as asinhas também causavam aquela sensação boa no estômago: a gente encontrou desejo de estar na escola, de fazer parte de uma turma, de aprender juntos, desejo de sair para estudar, de ler, escrever, aprender, desejo do desafio, do compartilhar o que é de mim e somar ao que é de fora de mim e ser mais, poder mais!

Por enquanto, há 2 semanas – começamos dia 04/04 –  que estamos juntos e nos afetando todos os dias, parece que nos conhecemos há muito tempo: vivo a vontade de 100% estar na escola, vivo todo o dia o empenho de cada um ali dentro, com suas dificuldades ou facilidades, mas sobretudo, com a vontade de lá dentro, ser mais do que éramos aqui fora...

Fábia Muniz, 2022.

Professora Fabia e seus estudantes na sala de aula da Unidade Escolar da FRM do Centro
Professora Fábia Muniz com seus estudantes do Ensino Fundamental (Foto: acervo pessoal)

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