Notícia: Porta de entrada de jovens no mercado de trabalho, aprendizagem profissional bate recorde de vagas

Porta de entrada de jovens no mercado de trabalho, aprendizagem profissional bate recorde de vagas

País tem mais de 650 mil aprendizes, mas continua distante da cota mínima. Entenda como funciona a política, saiba sobre os desafios para expansão e conheça iniciativas bem-sucedidas

O número de jovens inseridos no mercado de trabalho por meio da política de aprendizagem profissional chegou a 656 mil em abril deste ano, o maior registro desde que a Lei 10.907 entrou em vigor, em 2000, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

Apesar do avanço, o país ainda está longe de atingir o potencial previsto legalmente. A Lei determina que as empresas classificadas como de médio ou grande porte são obrigadas a ter entre 5% e 15% de aprendizes em relação ao seu número total de funcionários. Se todas as empresas cumprissem integralmente a legislação, cerca de 1 milhão de jovens poderiam estar incluídos no mercado de trabalho em vagas de aprendizagem profissional.

Entre os obstáculos à ampliação desse número estão o desconhecimento sobre o modelo, dúvidas operacionais e dificuldades estruturais para integrar os jovens ao ambiente de trabalho. Além disso, é preciso considerar a diversidade dos setores econômicos, o porte das empresas e as realidades regionais.

Mas por que é tão importante aumentar as vagas de aprendizagem profissional?

O aumento de vagas representa mais oportunidades para as juventudes e pode gerar efeitos positivos no próprio setor produtivo. De um lado, os jovens ganham a chance de ingressar no primeiro emprego, adquirindo experiências práticas e desenvolvendo habilidades essenciais para sua trajetória profissional. Do outro, empresas contribuem para a formação de novos talentos, ao mesmo tempo em que disseminam sua cultura organizacional e valores entre os aprendizes.

Apesar da Lei da Aprendizagem Profissional completar 25 anos em dezembro, muitas dúvidas ainda cercam o tema. Há mais de duas décadas trabalhando na área, Claudia Araújo está, atualmente, na coordenação da aprendizagem profissional do Departamento Nacional do SENAI. Ela nos ajuda a entender o funcionamento da política, os desafios para sua expansão e, também, compartilha experiências bem-sucedidas do SENAI.

O que é a aprendizagem profissional

Para ser aprendiz, é necessário ter entre 14 e 24 anos, estar frequentando a escola ou já ter concluído a educação básica, além de estar matriculado em uma entidade de formação técnico-profissional credenciada. A política também promove a inclusão produtiva de pessoas com deficiência, sem limite de idade.

O modelo aproxima educação e trabalho ao combinar a formação profissional com a prática supervisionada nas empresas. Ou seja, o jovem aprende a teoria e aplica os conhecimentos no dia a dia, adquirindo uma qualificação mais completa e sintonizada com as exigências do mundo do trabalho.

“O jovem realiza parte de sua formação na empresa que o contratou. É uma experiência de trabalho-educação. A prática na empresa precisa estar vinculada ao curso. O trabalho como princípio educativo se concretiza na conexão entre a formação teórica e a prática profissional”, explica a coordenadora da aprendizagem profissional do Departamento Nacional do SENAI, Claudia Araújo.

Onde estão as vagas de aprendizagem?

Para se candidatar a uma vaga de aprendizagem profissional, o jovem deve buscar oportunidades diretamente com as empresas contratantes, por meio dos canais institucionais ou de plataformas de recrutamento e seleção.

Claudia dá uma dica importante: como o SENAI apoia essas empresas, muitas vezes contribui também com a divulgação das vagas. Por isso, vale a pena procurar a instituição. “Além de ofertar os cursos, o SENAI pode dispor de informações sobre vagas disponíveis ou apoiar no processo de encaminhamento às empresas parceiras”, orienta.

O impacto social da aprendizagem

O jovem contratado pela Lei da Aprendizagem tem a carteira de trabalho assinada e direito a receber uma remuneração compatível com o salário-mínimo, 13º salário, FGTS, férias e vale-transporte. A inclusão produtiva acontece pela via legal, assegurando todos os direitos trabalhistas às juventudes. Dessa forma, a aprendizagem alia educação, geração de renda e inclusão no mercado de trabalho de maneira adequada e protegida.

Isso é especialmente relevante para as juventudes em vulnerabilidade socioeconômica, que precisam ajudar financeiramente a família ou sustentar a si mesmos. A aprendizagem mostra-se um caminho alternativo à informalidade, ao trabalho infantil e a outras formas de exploração do trabalho, garantindo uma série de direitos aos jovens, inclusive o direito à educação.

Claudia avalia que a aprendizagem profissional cumpre um importante papel ao contribuir para elevar a escolaridade e apoiar a permanência na escola, garantir o direito à profissionalização e promover a qualificação profissional. “A aprendizagem tem esse papel de preparar para o mundo do trabalho, mas também tem uma função social muito grande de incluir esse jovem, especialmente os mais vulneráveis, no mercado formal de trabalho com direitos garantidos”.  

Os desafios para ampliar oportunidades

Para Claudia, o aumento na oferta de vagas exige ações concretas, articuladas e contínuas. É necessário fortalecer o ecossistema da aprendizagem profissional, com medidas que incentivem a participação efetiva das empresas no debate.

Entre as estratégias apontadas estão o fortalecimento de iniciativas de orientação e sensibilização, que mostrem aos empregadores os benefícios estratégicos de contratar aprendizes, especialmente na formação de talentos alinhados à cultura e às demandas específicas de cada organização.

“O SENAI, por exemplo, assegura a formação de jovens com competências técnicas e comportamentais alinhadas às demandas do setor produtivo, o que permite às empresas contarem com profissionais em formação já preparados para atuar em ambientes industriais dinâmicos e tecnologicamente atualizados”, afirma Claudia.

Ela defende a ampliação de programas com metodologias atualizadas, que acompanhem as transformações do mundo do trabalho, tornando a formação mais atrativa e efetiva para as empresas e juventudes. Portanto, além de ampliar a oferta de vagas, é fundamental garantir a qualidade da formação oferecida.

Na visão da especialista, o diálogo entre as instituições que ofertam as formações, as empresas contratantes e os órgãos públicos envolvidos na fiscalização e implementação da política é fundamental para construir soluções que viabilizem o cumprimento da cota mínima. “Com diálogo, cooperação e compromisso de todos os envolvidos, é plenamente possível avançar no fortalecimento da aprendizagem profissional e ampliar as oportunidades para que mais jovens tenham acesso ao programa”, avalia Claudia, que complementa: “Trata-se de uma prática que une conformidade legal, desenvolvimento de talentos e compromisso com futuro do trabalho”.

Inovação para conectar jovens e empresas

Segundo Claudia, o SENAI vem desenvolvendo uma série de iniciativas para facilitar o encontro entre empresas e jovens. Uma das principais apostas é a plataforma digital "Contrate-me", que conecta estudantes formados a vagas abertas. Para isso, considera o perfil profissional do candidato e da vaga, promovendo uma conexão mais precisa entre demanda e qualificação.

Outro destaque é a SAGA SENAI de Inovação, uma trilha educacional em que os alunos solucionam problemas reais da indústria, promovendo uma formação contextualizada e desafiadora. “A interação direta com as empresas permite que os jovens desenvolvam competências técnicas e comportamentais em contextos reais, fortalecendo sua capacidade de atuação profissional e tornando-os mais preparados para os desafios do mercado”, explica Claudia.

Setores que mais contratam

Segundo dados do MTE, nos primeiros quatro meses de 2025, a indústria liderou as contratações de aprendizes. Em seguida, vem os setores de serviços, comércio, construção civil e agropecuária, respectivamente.

Na indústria, as subáreas de controle e processos industriais, e produção Industrial concentram a demanda por aprendizes. Segundo Claudia, o SENAI busca ouvir o setor produtivo e alinhar os currículos de seus cursos às demandas do mercado. "Esse alinhamento garante não apenas a qualificação técnica, mas também amplia as oportunidades de inserção socioeconômica dos jovens", reforça.

De acordo com a especialista, essa atenção às necessidades reais do mercado ajuda a explicar os altos índices de empregabilidade dos egressos dos programas de aprendizagem. A formação promovida pelo SENAI é construída com base em comitês técnicos, escuta ativa com empresas e atualização tecnológica constante. O resultado são cursos que combinam teoria e prática, com vivências em ambientes simulados e reais, preparando o jovem de forma integral.

Em 2024, o SENAI atendeu mais de 230 mil jovens em programas de aprendizagem, por meio de 1.097 cursos, com presença em todos os 27 estados brasileiros. Claudia lembra que a aprendizagem profissional está no DNA da instituição, criada justamente para preparar novos profissionais para a indústria brasileira. Hoje, são 512 escolas habilitadas em todo o país.

Habilidades comportamentais

Em um mercado cada vez mais exigente, dominar apenas a técnica já não basta. As chamadas soft skills — ou habilidades comportamentais, como comunicação, trabalho em equipe, pensamento crítico e proatividade — tornaram-se tão importantes quanto a qualificação formal. O SENAI integrou esse entendimento à sua prática pedagógica, incorporando essas habilidades de forma transversal nos currículos.

“As competências comportamentais são desenvolvidas por meio de projetos integradores, simulações e experiências reais de trabalho, preparando o jovem para atuar com autonomia e adaptabilidade”, explica Claudia. Ao classificar essas habilidades por níveis de complexidade ocupacional, o SENAI assegura que o desenvolvimento do aprendiz acompanhe sua trajetória profissional.